Conheça mais sobre a doença de Alzheimer
Sem cura e de piora progressiva, tratamento terapêutico e suporte familiar são essenciais ao paciente com Alzheimer
A doença de Alzheimer, de característica degenerativa, é uma patologia prevalente nos mais idosos. Sua marca principal é o comprometimento cognitivo (pensamento, linguagem, percepção, memória e raciocínio) e sua evolução gera comprometimento físico. Às vezes, inicialmente confundida com simples episódios de esquecimento, é importante conhecer as suas particularidades para seu reconhecimento e busca de auxílio profissional precocemente.
O médico geriatra Paulo Brambilla, especialista em Tratamento de Dor e com experiência em Cuidados Paliativos, explica na entrevista abaixo as características do Alzheimer, como tratar a doença, formas de prevenção e destaca a importância da rede de apoio de familiares, amigos e cuidadores no processo de tratamento de um doente com Alzheimer. Confira:
Dr. Paulo, toda demência ou episódios de esquecimento são Alzheimer? Diferencie demência / episódios de esquecimento / Alzheimer.
A preocupação com relação a memória é uma queixa recorrente no consultório do geriatra e preocupa pessoas em todos as faixas etárias. A forma como nosso cérebro arquiva as informações depende de um complexo mecanismo neurológico que pode ficar comprometido por diversas causas, dentre elas, a temida doença de Alzheimer.
Esquecer onde guardou um objeto, não lembrar o que iria fazer ao deslocar-se de um cômodo a outro da casa e esquecer episodicamente de compromissos, são falhas mais simples da memória que podem acometer pessoas saudáveis sem ter relação com qualquer doença. Quando associados com estresse, sobrecarga de trabalho, alterações do humor como, ansiedade e depressão, esses esquecimentos mais leves podem se agravar e até trazer certo prejuízo social. Nestes casos, quando esses fatores de piora são tratados e revertidos, a memória pode se reestabelecer.
Os esquecimentos mais importantes, que estão relacionados com as demências e dentre elas, a mais temida e prevalente doença de Alzheimer, são inicialmente alterações da memória recente e que trazem prejuízo na funcionalidade. Devido as falhas na memória, a pessoa que antes era independente, passa a depender dos outros para realizar tarefas como, por exemplo, administrar suas finanças, tomar decisões importantes, deslocar-se de carro ou transporte público, usar o telefone, fazer compras, entre outras atividades.
Os sinais da doença de Alzheimer não se restringem às falhas de memória. Podem surgir mudanças no comportamento (desde apatia, sono excessivo, redução da interação social até agitação, inquietude, agressividade e alteração de personalidade).
Diferenciar o que é esquecimento “benigno” dos sintomas iniciais das demências é uma difícil tarefa. Cabe ao médico Geriatra interpretar minuciosamente as queixas do paciente e seus familiares e aplicar, quando necessário, testes específicos para avalição da memória. Caso o diagnóstico da doença de Alzheimer seja feita precocemente, o amparo familiar e o tratamento serão mais efetivos.
Quais são as causas para a sua ocorrência?
O principal fator de risco para a Doença de Alzheimer é o próprio envelhecimento. Conforme a idade avança, maior a possibilidade da doença se instalar. Existem fatores genéticos que estão relacionados com a maior prevalência da doença em familiares de pessoas já acometidas, mas essa relação é mais evidente nos casos de doença de início precoce, antes dos 60 anos, que são raros. Muitos estudos estão em andamento para determinar especificamente fatores genéticos que estejam envolvidos, no entanto, até o momento, nada que possa ser realizado para diagnóstico prévio à instalação da doença.
Outras doenças podem levar ao desenvolvimento do Alzheimer?
O que se sabe é que alguns fatores de risco para doenças que afetam o coração e a circulação sanguínea como, pressão arterial, colesterol elevados, diabetes, tabagismo, ingesta alcoólica de risco, obesidade e sedentarismo podem interferir na ocorrência e no agravamento da doença de Alzheimer. Portanto, manter hábitos de vida saudáveis faz bem tanto para o corpo como para a memória.
Existe prevenção para essa doença?
A melhor forma de prevenir a doença de Alzheimer é manter o cérebro ativo. Quanto mais o órgão for estimulado ao longo da vida, quanto mais conhecimento e habilidades a pessoa adquirir, mais protegido estará o cérebro de ser acometido por essa doença. Assim, manter-se ativo buscando novos aprendizados, mesmo após a aposentadoria, é essencial para preservar a memória.
Quais são os tratamentos indicados ao Alzheimer?
O tratamento da doença de Alzheimer engloba múltiplos aspectos. Existem medicamentos específicos para cada fase da doença, desde seu estágio inicial até o mais avançado, com o objetivo de retardar a progressão da doença e controlar as alterações do comportamento que possam surgir. Infelizmente, até o momento, não existe tratamento curativo ou que paralise a doença que, por ser degenerativa, vai se agravar a despeito do tratamento vigente.
Muitos estudos para elaboração de novos medicamentos e até mesmo procedimentos cirúrgicos com efeito curativo estão em andamento com resultados promissores, mas ainda sem uso na prática clínica.
Além do tratamento medicamentoso, a atuação de outras áreas como, terapia ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia e enfermagem tem uma atuação importante na reabilitação da memória e/ou física destes pacientes, com o objetivo de preservar a sua autonomia e qualidade de vida o maior tempo possível.
Que importância você atribui aos familiares, amigos e rede de apoio no acolhimento e tratamento de um portador da doença de Alzheimer?
Conhecer sobre a doença e se informar a respeito do que vem pela frente é de extrema importância aos familiares e cuidadores que estarão ao lado desse doente. Como já foi dito, por ser uma doença degenerativa, a mesma evoluirá com piora progressiva, o que é bastante angustiante para a família que precisará se organizar, dividir tarefas e buscar ajuda em centros de apoio na comunidade.
Se de um lado a doença costuma ser devastadora aos familiares que acompanham a evolução de uma triste doença, ao paciente ela acaba sendo de certo modo protetora pois, conforme a doença avança, o paciente vai perdendo a percepção do que está acontecendo e com isso a angústia dos esquecimentos e da dependência funcional acabam.
Que atividades lúdicas ou sociais podem auxiliar a atenuar ou minimizar os sintomas do Alzheimer?
Manter o paciente ativo e realizando as atividades que tenha capacidade e não ofereçam riscos é o que melhor pode-se fazer. Quanto mais o paciente for estimulado a preservar sua autonomia, mesmo que parcialmente, melhor será para ele e sua família, por meio de reabilitação física e cognitiva com terapia ocupacional e tratamento psicológico, que trazem benefícios evidentes para a autonomia do paciente.
Penso que a Doença de Alzheimer é muito cruel ao comprometer a memória, mas ela é incapaz de apagar histórias. O paciente pode até esquecer o que já fez, mas as marcas que ele deixou pela vida, essas ficam e doença nenhuma apaga.
Consultoria: Dr. Paulo Brambilla, médico geriatra, especialista em Tratamento de Dor. (CRM: 139.767 / RQE: 152.337)